SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA!1
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Brasil e África: impossível negar essa ligação

Maria da Conceição Dal Bó Vieira[1]

Os laços que unem Brasil e África são antigos e profundos, em especial, quando lembramos que um grande número de africanos foi trazido ao Brasil, para aqui trabalhar como escravo.

Segundo mostra um gráfico, apresentado no livro “A escravidão no Brasil” foi sempre crescente o fluxo de africanos escravizados para o Brasil, sendo:

No século XVI um total de 50.000 negros; no século XVI, o número salta para 560.000; no século XVII para 1.680.100 e durante apenas cinquenta anos do século XIX, 1.732.200 negros são desembarcados nas costas brasileiras. A partir de 1850 fica proibida a entrada de escravos negros no Brasil.(PINSKY, 2009, p.40).

            Evidentemente, é preciso lembrar que essas pessoas reduzidas à condição de peça, vendidos como uma coisa ou um objeto foram vítimas das maiores violências e que tal tragédia não pode ser apagada ou menosprezada, pois:

A recuperação do passado com vistas à compreensão do presente e à iluminação do futuro – o papel do historiador – passa necessariamente pela constatação das mazelas e violências de que o povo tem sido vítima. E ter sido tratado como mercadoria foi uma das maiores violências perpetradas contra o povo negro. (PINSKY, 2009, p. 45).

            O povo negro vítima de tanta violência, todavia, contribuiu para o desenvolvimento econômico do Brasil, afinal, foi durante séculos o mão-de-obra que atuou nos engenhos de cana de açúcar, na mineração, na lavoura do café e em tantos outros trabalhos que aqui realizaram.

            Cabe lembrar que não apenas no campo da economia o Brasil está ligado ao continente africano, sendo devedor dos africanos e seus descendentes pelas conquistas econômicas, como também, no campo das manifestações culturais, que ainda hoje estão muito presentes e vivas na sociedade brasileira e que são originárias da África.

            Nesse sentido, pode-se lembrar dos diferentes cultos aos orixás, entidades ancestrais e da natureza, que são reverenciados no Candomblé e na Umbanda, além do Catolicismo negro, que a partir do ensino da religião Católica aos africanos escravizados faz surgir, no Brasil, as associações ou irmandades religiosas de “homens pretos”, sendo que:

Os principais santos de devoção das irmandades de “homens pretos” eram Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito. Além de cuidar do culto do santo elas faziam o enterro dos irmãos mortos, mandavam rezar missas pelas suas almas e amparavam suas famílias caso elas não tivessem nenhum recurso. (SOUZA, 2007, p. 116).

            Na religiosidade do povo brasileiro essas manifestações estão presentes demonstrando sua força e permanência, tanto entre os descendentes dos africanos como entre outros, que não são descendentes dos escravizados que para o Brasil foram trazidos, pois essas pessoas escolheram a religiosidade de origem africana como sua maneira de viver a espiritualidade.

            Importa ainda lembrar a grande quantidade de palavras que a nossa língua, a Língua Portuguesa que falamos no Brasil, recebeu dos povos africanos, assim como a imensa presença da cultura africana na música brasileira e em tantos outros aspectos da sociedade brasileira.

            Haveria muito mais para citar, enquanto contribuição e presença dos africanos e seus descendentes no Brasil, todavia, ainda que tenham dado tantas contribuições ao progresso do país, mesmo assim, eles ainda são vítimas de um racismo persistente, na medida em que:

Pode-se dizer que o racismo brasileiro constitui uma espécie de discurso costumeiro, praticado como tal, porém pouco oficializado. Com efeito, uma das especificidades do preconceito vigente no país é o seu caráter não oficial. (SCHWARCZ, 2010, p. 52)

Uma tarefa inadiável para a sociedade brasileira é vencer essa vergonhosa barreira de preconceito e discriminação que impede a verdadeira união entre povos originários desta terra, os africanos e todos aqueles que, oriundos de diversas partes do mundo, hoje constituem o povo brasileiro.

Nesse sentido, medidas como a adoção de leis que tratam da necessidade de se estudar, nas escolas de ensino fundamental e médio, a contribuição inestimável dos povos africanos bem como sua história e cultura, são passos importantes na luta contra o preconceito e a discriminação.

Cabe destacar, sobretudo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394, de 1996 e a Lei 11.645, de 2008 que determinam a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira em todas as escolas públicas e privadas do Brasil.

Finalmente, é preciso valorizar e divulgar a importância da Lei 12.519, de 10 de novembro de 2011, que instituiu o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, como uma forma de refletir sobre a questão do racismo no Brasil e de quais caminhos o país deseja percorrer para vencer o que Joaquim Nabuco escreveu: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”. (NABUCO, 2004, p. 137).

Referências bibliográficas:

NABUCO, Joaquim. Minha formação. São Paulo: Martin Claret, 2004.

PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. 20ª ed. São Paulo: Contexto, 2009.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Racismo no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Publifolha, 2010.

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.


[1] Pedagoga, Mestre em Educação e, atualmente, professora da Faculdade Cerquilho – FAC.

Fundada em 2009, é uma editora voltada para a publicação de conteúdos científicos de pesquisadores; conteúdos acadêmicos, como teses, dissertações, grupos de estudo e coletâneas organizadas, além de publicar também conteúdo técnico para dar suporte à atuação de profissionais de diversas áreas.

Um comentário

  • Pop Ads

    Poxa até que fim encontrei o artigo que estava precisando
    e ajudou muito. Infelizmente na internet e no youtube
    não encontrei bons conteúdos sobre esse assunto.
    Compartilhado nas redes sociais.

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