Semana da Consciência Negra com Tayná Victória de Lima Mesquita
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Semana da Consciência Negra com Tayná Victória de Lima Mesquita


Perguntas e respostas com Tayná Victória de Lima Mesquita.


Tayná Victória de Lima Mesquita, graduada em Ciências Sociais pela Unicamp. Na Unicamp, está vinculada ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos da Faculdade de Educação e, atua, na EJA, como educadora do Projeto Educativo de Integração Social, desde 2015. Estuda o desvelamento das implicações do fenômeno do racismo em relação ao direito à educação, Educação de Jovens, Adultos e Idosos, interseccionalidades, gênero, branquitude entre outros temas.


Paco Editorial: A senhora considera importante a existência do Dia da Consciência Negra? O que esse dia representa para a senhora?

Tayná Victória de Lima Mesquita: O dia da consciência negra é exigência num país de racismo por denegação como dizia Lélia Gonzáles. É preciso um feriado para que pelo menos em um  dia/mês do ano o assunto da desigualdade racial seja visibilizado. Isso já demonstra a pertinência da existência desse dia. O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravização. Completamos 132 anos de abolição legal e os dados da realidade demonstram que se trata  de um processo em curso. Esse dia é um convite à reflexão e a defesa da luta antirracista. Contudo, assumir uma consciência negra deve ser uma tarefa diária. O racismo, que nesse país é estrutural, faz vitimas todos os dias, de qualquer maneira. 


Paco Editorial: Qual a importância da EJA?

Tayná Victória de Lima Mesquita: A Educação de Jovens, Adultos e Idosos é a escola de segunda chance. Como costuma afirmar a Profª Drª Sandra Fernandes Leite é em especial a escola de segunda chance para o Estado, responsável pela exclusão. A EJA deve ser entendida como direito, como espaço de efetivação do direito fundamental da educação para sujeitos que no geral, são atravessados por múltiplas precariedades e que tem no direito à educação, apenas um entre outros direitos fundamentais negados.


Paco Editorial: Pode-se afirmar que relação da EJA com pessoas brancas, é a mesma com pessoas pretas? Justifique.

Tayná Victória de Lima Mesquita: A EJA é uma modalidade da educação básica destinada aqueles que não tiveram acesso à educação na “idade própria”. Sabemos que uma das implicações do racismo no Brasil são os processos de exclusão escolar vivenciados pelas pessoas negras. Em nosso país, a cada 10 jovens negros, quatro não concluem os estudos, ao passo que pessoas brancas estudam por mais tempo e ocupam em maior proporção o ensino superior.  Nesse sentido, como em qualquer outra esfera da sociedade, a relação entre negros e brancos não é igualitária. A EJA é negra, feminina, transgênera, periférica. 


Paco Editorial: Como a publicação de livros com essa temática pode ajudar/amenizar as questões raciais que ainda vivemos no Brasil e em grande parte do mundo?

Tayná Victória de Lima Mesquita: Nos últimos anos temos percebido o mercado editorial se modificando. Intelectuais negros, brasileiros e estrangeiros tem sido mais visibilizados. E a população tem respondido positivamente. Não por acaso, Djamila Ribeiro é uma das autoras mais vendidas do país. E essa mudança se deve em grande medida à pressão dos próprios movimentos negros, que há anos trabalham na tradução e divulgação, por exemplo de textos fundamentais que foram publicados muito recentemente, como as obras de Angela Davis e bell Hooks. Ao passo que a desigualdade racial ainda é imensa, não devemos desconsiderar as implicações das políticas de cotas, ampliando o acesso de pessoas negras nas universidades e reconfigurando os sentidos da intelectualidade no país. 


Paco Editorial: É possível verificar que, em 2020, apesar dos negros representarem 54% da população brasileira, são poucos que ocupam cargos políticos. O que justificaria esse fato? De que forma a ocupação de cargos políticos por pessoas pretas poderia beneficiar essa parcela da população?

Tayná Victória de Lima Mesquita: A baixa representação das pessoas negras nos espaços institucionais de poder deve ser remetida, mais uma vez, ao racismo. Observamos desde as eleições de 2018 certa ampliação nessa representação. Nessas ultimas eleições, observamos mulheres negras, vinculadas aos movimentos sociais,  eleitas por todo o país. Com certeza isso é motivo de jubilo e a expectativa é que essa representação se reflita na defesa dos interesses das minorias políticas. Contudo, ainda há muito que avançar. Pessoas negras, em especial as pretas, são mais representadas nos cargos menos competitivos, como os de vereança por exemplo, e são pouco acolhidos nos partidos mais tradicionais e que reúnem maior capital político e econômico. 


Livro

Neste livro, Tayná apresenta não apenas um avanço conceitual, mas também político sobre o tema Educação de Jovens e Adultos. Conceitual porque aborda diversos conceitos fundamentais sobre educação e raça a partir da perspectiva de intelectuais negros do mundo todo, muitos ainda sem tradução para o português. Mas é um avanço principalmente político, porque parte de pressupostos fundamentais como a existência do racismo individual e institucional. Afirma: “a abolição ainda está em curso”. Tese que é comprovada por dados da realidade apresentados por Tayná. Neste sentido, o trabalho teórico da autora compõe uma movimentação de mulheres negras que vêm ocupando espaços e estremecendo as estruturas de modo definitivo rumo à construção de uma sociedade livre de opressões. (Profa. Dra. Carolina Santos Pinho)

Fundada em 2009, é uma editora voltada para a publicação de conteúdos científicos de pesquisadores; conteúdos acadêmicos, como teses, dissertações, grupos de estudo e coletâneas organizadas, além de publicar também conteúdo técnico para dar suporte à atuação de profissionais de diversas áreas.

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