Por: João Angelo Fantini
«Todo homem culto é um teólogo»: o alerta de Jorge Luís Borges, replicado na forma de um dos títulos desta coletânea como «Todo homem culto é um cinéfilo», poderia resumir a urgência e a necessidade nestes tempos pandêmicos de cada vez mais nos instruirmos sobre a imposição de entender mais e melhor as imagens e sons que nos rodeiam.
Talvez, como em nenhuma outra época, ao menos com tamanha incidência, todos estamos de uma forma ou de outra ilhados, tendo que nos comunicar com o mundo através de fotos, textos, sons, músicas na tentativa de romper com aquilo que para o humano representa sua maior tortura, a solidão.
Neste livro, especialistas nas discussões sobre o cinema nos ajudam nessa empreitada, ao discutir de forma intensa e elegante como, ao aprender mais sobre cinema, nossa percepção do mundo e do humano podem alargar a janela por onde espiamos a vida dos outros para comparar com nossas próprias vidas.
O cinema, para além dele mesmo, é uma arte que nos ensina a olhar outras artes e mídias na medida em que é fonte de inúmeras outras formas de expressão que vão da educação ao entretenimento. Forjado ao longo de mais de um século ele foi capaz de criar códigos de representação da realidade que se tornaram invisíveis para o espectador médio, mas que são, ao mesmo tempo, uma forma de ideologia (no sentido mais nobre do conceito), na medida em que nos mostra através dos enquadramentos aquilo que nos é dado a ver.
Os textos e autores, criteriosamente escolhidos por Juan Droguett, vão desde novos pesquisadores até àqueles conhecidos internacionalmente no campo da estética cinematográfica. Certamente esse conjunto de trabalhos apoiará de leitores iniciantes aos cinéfilos, aprofundando a percepção tão vital neste momento histórico de ler, como imagens e sons, modulam nosso imaginário e, por consequência, nosso modo de entender questões que estão profundamente enraizadas na nossa forma de viver a política, a religião, a intolerância, o amor, a sexualidade.
Como obra, o livro aborda todas as questões acima de diversas perspectivas, servindo de guia a uma maior e melhor fruição estética da arte cinematográfica que, ao fim de tudo, nos lembra de que no reino da guerra de narrativas que vivemos é preciso estar atentos e, sabiamente, fortes para escapar das armadilhas midiáticas montadas diariamente à nossa frente. Para além do desejo, só a Arte nos salvará.