O GRES Portela comemora, em 2023, seu centenário de fundação. É a escola de samba mais antiga e a que mais conquistou vitórias em desfiles. Há cerca de seis anos, já pensando nessa data, reunimos uma extensa bibliografia, que incluiu pesquisa em jornais e revistas das décadas de 1920 e 1930, audição de vinis e coletagem de depoimento de personagens e de inúmeras fotos da época. O objetivo foi reler a história da agremiação, trazendo fatos ainda não revelados.
Contudo, para que as novidades encontradas recebessem a devida relevância, foi necessário contextualizar a pesquisa com a história brasileira. Além de protagonista das profundas mudanças ocorridas no carnaval, os portelenses testemunharam momentos importantes da história nacional e nela interviram coletivamente. Os sambistas do bairro de Oswaldo Cruz, um micro perfil da classe trabalhadora da época, foram alvo de políticas urbanísticas elitistas, participaram da construção da ideia de identidade nacional e de cultura brasileira, usaram e serviram a classe dominante e seus partidos, tiveram suas manifestações musicais, de dança e indumentária realizadas na Praça Onze modificadas para atender o espetaculo que os governantes planejaram. Resistiram o quanto puderam e alcançaram a fama aparecendo em jornais e programas de rádios, obtendo contratos com a indústria fonográfica. Foram o corpo e a alma de uma festa que se tornou símbolo da brasilidade reconhecida internacionalmente. Mas a maioria deles viveu e morreu na pobreza.
A vontade de contar essa história, do ponto de vista de seus verdadeiros protagonistas, nos levou a escrever “Portela e portelenses, 1920-1939, Volume 1”, que a Paco Editorial lança nesse centenário portelense.
Confira abaixo o livro disponível em nossa Loja Virtual:
Esta obra trata de um objeto real e de construção coletiva, com todas as suas contradições, múltiplas sínteses e contextualizado em determinado período histórico. Em meio ao “ganha pão” do Rio de Janeiro das décadas de 1920 e 1930, os protagonistas desta narrativa surgem sem maniqueísmos e heroísmos. Foram eles quem contaram à imprensa carioca da época, o que o leitor irá, agora, descobrir. Estávamos no Entreguerras, no final da Primeira República e o Estado Novo chutava a porta da “democracia”. Enquanto os portelenses não sabiam que assim seriam chamados no futuro, a sociedade brasileira também não havia definido o que era ser brasileiro e o que era a cultura brasileira. A Portela, dos humildes e desassistidos, e a burguesia carioca, que sonhava com Paris, pensavam um amanhã distinto. O subúrbio teve de abrir mão de boa parte de seus valores, mas resistiu gerando uma verdadeira revolução na folia momesca, cujo palco foi a Praça Onze. As versões sobre a fundação do GRES Portela, seus primeiros desfiles e os embates travados entre Estado, sambistas, coirmãs e ideologias políticas estão detalhadamente apresentados. A conclusão será sua.