Finalmente Alberto Guerreiro Ramos (1915-82) vem ganhando o destaque merecido na academia brasileira. Em especial nas áreas de Ciência Política, Sociologia e Teoria da Administração. Ainda é pouco diante da relevância que o autor poderia ter para o pensamento social brasileiro e para as ciências sociais, em geral.
Três razões primordiais justificam tal revisitação: a) qualificação intelectual do autor e de sua obra; b) atualidade das temáticas tratadas (questão étnico-racial, análise da branquidade, projeto nacional, crítica ao eurocentrismo, teoria do populismo, tratados sobre administração pública, sociedade multicentrada); c) viés interdisciplinar ou mesmo transdisciplinar da sua reflexão teórica, apesar de sua reputação como sociólogo.
Negro,filho de uma família pobre, Guerreiro foi um intelectual de exceção no Brasil do século XX. E tal marca de origem e de cor foi algo que ele carregou por toda à vida profissional, em altos cargos da administração pública, membro fundador do ISEB, deputado federal e docente em universidades do Brasil e dos E.U.A. Guerreiro foi consciente deste fato, tendo sido inclusive parceiro de lutas e amigo pessoal de Abdias do Nascimento e outras lideranças do Teatro Experimental do Negro (TEN), entre fins da década de 1940 e 1950. Tema que trabalhei no livro Guerreiro Ramos e o personalismo negro (2015, Paco Editorial).
Tais características pessoais e de sua trajetória profissional moldaram sua preocupação crescente em realizar trabalho intelectual comprometido para a solução dos problemas nacionais candentes. Nesta perspectiva, décadas antes dos teóricos pós-coloniais ou decoloniais recentes, analisou, por exemplo, os aspectos teórico-metodológicos necessários para à superação do eurocentrismo nas ciências sociais e humanas. Tema do seu maior clássico: Redução sociológica (1958). Por estas e outras é tempo de voltar a Guerreiro Ramos, um dos grandes intelectuais do século XX.
Confira também a obra disponibilizada na Paco Editorial sobre o autor:
Guerreiro Ramos esteve entre aqueles autores/ativistas que entenderam, na década de 1950, que a europeização do mundo era um processo racista e excludente. Mas como humanista que era, quis ver além. Defendeu a criação de um Brasil novo, nacional e popular. Daí sua interpretação original da negritude e sua crença na possibilidade de reeducação do “branco” brasileiro. Foi o nosso Fanon possível. Mas nem sua crítica, nem seu projeto de Brasil nasceram no vazio. Eles foram gerados na própria trajetória de Guerreiro: este “mulato” que virou “negro”, por conta de sua práxis no Teatro Experimental do Negro. Esta é a estória que este livro conta.
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