A Universidade Harvard anunciou na 4ª feira (12.abr.2023) a criação do “Council on Academic Freedom at Harvard” (Conselho de Liberdade Acadêmica de Harvard). Endossado por 70 professores, a iniciativa visa a melhorar o ambiente universitário, com mais liberdade de expressão, sobretudo para conter o avanço de políticas identitárias e politicamente corretas (a chamada cultura “woke”) que, na prática, interditam o debate sobre temas de maior interesse de conservadores. Harvard está na cidade de Cambridge, no Estado de Massachussetts, no Nordeste dos EUA. É um dos berços do que os norte-americano chamam de “liberalismo” –um amálgama do pensamento politicamente correto e das propostas de esquerda e centro-esquerda. A iniciativa de criar um conselho para debater a necessidade de haver mais liberdade de expressão foi amplamente noticiada pela mídia norte-americana. Como se trata de uma proposta que veio do grupo minoritário e mais conservador, é algo contraintuitivo quando se considera o histórico da centenária universidade, criada em 1636.
O lançamento do conselho foi explicado pelos professores de Harvard Steven Pinker e Bertha Madras em um artigo publicado pelo jornal Boston Globe (Boston é capital de Massachussetts e é conurbada a Cambridge, onde está a universidade). O artigo começa assim: “A confiança no ensino superior americano está caindo mais rapidamente do que em qualquer outra instituição, com apenas metade dos americanos acreditando que isso tem um efeito positivo no país. “Uma parte não desprezível desse desencanto é a impressão de que as universidades estão reprimindo diferenças de opinião, como as inquisições e expurgos de séculos passados. Isso tem sido alimentado por vídeos virais de professores sendo assediados, xingados, questionados em silêncio e às vezes agredidos –e essa atitude é justificada por alguns números alarmantes. De acordo com a Foundation for Individual Rights and Expression, de 2014 a 2022 houve 877 tentativas de punir acadêmicos por expressões que são, ou em contextos públicos seriam, protegidas pelos direitos assegurados pela 1ª emenda à Constituição dos EUA. De todos esses casos, 60% resultaram em sanções reais, incluindo 114 incidentes de censura e 156 demissões (44 delas professores efetivos) –mais do que durante a era McCarthy. Pior, para cada estudioso que é punido, muitos mais se autocensuram, sabendo que podem ser os próximos. Não é melhor para os alunos, a maioria dos quais diz que o clima do campus os impede de dizer coisas em que acreditam”.
Pinker e Madras argumentam que muitos hoje em Harvard se sentem incomodados com o patrulhamento ideológico por parte do grupo dominante. Citam que a universidade está na posição 170 entre 203 escolas de nível superior no país num ranking de liberdade de expressão.
O Conselho de Liberdade Acadêmica de Harvard é uma organização de professores que vai se “dedicar à livre investigação, à diversidade intelectual e ao discurso civil”. Deverá promover seminários, palestras e cursos sobre liberdade acadêmica. Vai funcionar também como um centro no qual os professores possam pedir ajuda quando sentirem que a liberdade de expressão estiver ameaçada.
Nesta semana, Harvard recebeu uma doação de US$ 300 milhões do bilionário norte-americano Kenneth Griffin. Em agradecimento à doação e a fim de homenagear Griffin, a universidade renomeou a “Graduate School of Arts and Sciences” para “Harvard Kenneth C. Griffin Graduate School of Arts and Sciences”.
Nos dias seguintes ao anúncio, houve protestos dos estudantes. Descobriu-se que Kenneth Griffin é simpatizante do governador do Estado da Flórida, o republicano Ron DeSantis, para quem já havia doado US$ 5 milhões. DeSantis é um político conservador, sempre citado para concorrer à Presidência dos EUA. Combate a chamada cultura “woke”, a nova terminologia para se referir a atitudes politicamente corretas. O jornal Boston Globe ouviu estudantes a respeito. “O que é inaceitável é forçar estudantes queer, negros e trans a estudar numa escola com o nome de alguém que doa dinheiro para financiar a aprovação de leis que coloca essas vidas em risco”, disse Zander Moricz, que está no 1º ano de estudos em Harvard. Harvard não comentou as críticas de estudantes e manteve os planos de receber a doação de Kenneth Griffin.
Fonte: Poder 360
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