Analisar o ser humano integralmente é o primeiro passo para superar doenças, assim como para aumentar a qualidade de vida das pessoas. Nesse olhar, a saúde bucal deve ser tratada como parte fundamental da saúde geral do indivíduo, com atenção especial para os grupos de risco, como os pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Grupo de risco
Falar dos pacientes internados em UTIs como grupo de risco é entender que, além de se encontrarem em um estado de saúde debilitado, esses pacientes não possuem autonomia para exercer a sua higienização pessoal. Isso acaba levando a uma saúde bucal precária, que favorece o aumento e a complexidade do biofilme e saburra lingual, que assim funcionam como reservatórios microbianos.
Problemas bucais, tais como infecções (cárie, periodontite, gengivite), inflamações, acúmulo de biofilme e dor interferem diretamente na condição sistêmica do indivíduo. Além do desconforto geral causado por essas afecções, que diminuem a qualidade de vida, muitos estudos comprovam que bactérias bucais são as principais responsáveis pela endocardite bacteriana, através da migração pela corrente sanguínea. Outros estudos associam a aspiração desses microrganismos com a pneumonia nosocomial adquirida em ambiente hospitalar.
Os pacientes internados também podem permanecer fortemente sedados ou em estado febril, o que leva à desidratação e à respiração através da boca. Isso acarreta mudanças na flora bacteriana e perda na eficácia da saliva na autolimpeza bucal. A administração de medicamentos anti-hipertensivos e anticolinérgicos, por exemplo, também prejudica as funções salivares, promovendo a xerostomia e o favorecendo de microrganismos no meio bucal.
O olhar odontológico e o cirurgião-dentista na UTI
A passividade dos pacientes quanto à própria higienização bucal, deixa a tarefa para os familiares e para os profissionais de enfermagem, que muitas vezes se sentem pouco qualificados para desempenhá-la. Dessa forma, a condição precária de saúde bucal de pacientes internados, traqueostomizados ou sob ventilação mecânica se torna um ponto crítico.
No entanto, promover a saúde bucal desses pacientes implica cuidados simples, de intervenção mínima, mas que devem ser planejados e adaptados de forma a prevenir complicações, gerando bem-estar e aumentando a qualidade de vida. E isso pode ser obtido através de capacitação da equipe de enfermagem juntamente com o cirurgião-dentista.
Através dos princípios da integralidade, interdisciplinaridade e transdisciplinariedade, o cirurgião-dentista é essencial na composição da equipe de terapia intensiva, visto a importância da sua atuação na saúde geral do indivíduo. Seja para capacitar a equipe, para a prevenção e intervenção mínima – com escovação mecânica, limpadores linguais, abridores e expansores bucais, administração de saliva artificial ou antissépticos –, ou para tratar clinicamente doenças já instaladas, o cirurgião-dentista habilitado precisa estar efetivamente presente.
Visto a abordagem prematura com estudos muito recentes quanto à atuação desse profissional nas UTIs, nota-se a necessidade de uma formalização tanto na formação profissional, quanto na conduta hospitalar e protocolos de tratamento desses pacientes críticos. Quebrar paradigmas se faz mais uma vez necessário, onde o foco deve ser sempre na melhoria da condição do paciente, com excelência na prestação dos serviços de saúde.
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