Tornou-se lugar comum apontar Freud como o pai da psicanálise – é claro que o título não vem sem razão. Outra afirmação frequente está no apontamento da origem germânica da disciplina. Schopenhauer, Nietzsche e até mesmo o romantismo de Goethe, seriam algumas das vozes alemãs que falam na genealogia psicanalítica. O próprio Freud aponta neste caminho diversas vezes em sua obra. Helio Honda demonstra, entretanto, que também há Raízes britânicas da Psicanálise.
São nas primeiras obras do médico neurologista que se notam mais claramente as referências aos autores ingleses. Exemplo neste quesito são as passagens que contém ideias do filósofo John Stuart Mill ou do neurologista John Hughlings Jackson. Sobretudo, o primeiro autor exerce grande influência sobre os conceitos desenvolvidos pelo austríaco.
Em Jackson, por outro lado, vemos quase uma profecia da psicanálise. Esta genealogia é evidenciada quando o saber psicanalítico é submetido aos paradigmas, filosóficos ou científicos, que lhe são externos. É este o empreendimento de Helio Honda, que expõe influências para além daquelas assumidas pelas leituras canônicas da obra freudiana.
Muito além das influências germânicas
Sabemos que Freud possuía vasta experiência intelectual. Ele foi inclusive aluno de pensadores destacados de sua época, como Jean-Martin Charcot, Ernst Brücke, Theodore Meynert, dentre tantos outros. Leitor voraz e também amante da arte, ele impregnou sua obra de ricas influências.
Não obstante, é justamente isto que leva muitos intérpretes a encontrarem no psicanalista apenas aquilo que querem. Raízes britânicas da Psicanálise é trabalho rigoroso que busca evadir-se das pistas falsas. Helio Honda parte da materialidade de termos e empréstimos conceituais para comprovar o que há do pensamento inglês em Freud.
Raízes britânicas da Psicanálise
Nesta obra, Helio Honda faz uma profunda análise do contexto conceitual que cerca a obra de Freud. Ali estudou onde as referências ao pensamento britânico foram empregadas. Além disso, empreendeu um estudo comparativo com textos de autores, como Stuart Mill, para confirmar apropriações do pai da psicanálise.
É nesta empreitada que encontra as prescrições metodológicas e hipóteses científicas que estariam entre os fundamentos da disciplina. Explicitar tais raízes aprofunda nossa compreensão a respeito desta novidade científica. Assim, ela pode ser vista não apenas como resultado de um romantismo alemão, mas também fruto do pensamento científico-naturalista inglês.
É neste último que encontramos a ponte que levará o austríaco do terreno da neurologia para o da psicologia. Afinal, é em Mill que estão elementos que constituem a “metodologia freudiana”. Em Jackson, há o empréstimo de ideias para estabelecer uma nova teoria da linguagem e conceitos sobre a dinâmica psíquica.
O autor – Helio Honda
Helio Honda é pós-doutor pelo Centro de Pesquisas em Psicanálise, Medicina e Sociedade. O grau foi obtido na Escola doutoral “Recherches en psychanalyse”, Universidade de Paris 7 – Denis Diderot. Além disso, ele é Doutor em Filosofia pela Unicamp e Mestre em Filosofia e Metodologia das Ciências pela UFSCar.
Todo este percurso se iniciou com a sua graduação em psicologia pela Universidade Estadual de Maringá, em 1988. Hoje ele é docente na graduação e pós-graduação em psicologia da mesma instituição. Raízes britânicas da Psicanálise parte da tese de doutorado apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas.