No livro Palavras de Revolução e Guerra o autor relata os segredos nas entrelinhas dos discursos da Imprensa Paulista em 1932.
A presente obra é resultado da dissertação de mestrado de Lucas Palma Mistrello, defendida em 2015, na Unifesp, sob orientação da professora Márcia Barbosa Mansor D’Alessio. O autor buscou compreender e refletir sobre as manifestações e os movimentos políticos na Revolução Constitucionalista de 1932, buscando entender o engajamento nela presente, bem como na chamada guerra paulista. Seu estudo compreende ainda a força que o discurso e a linguagem carregam nos processos históricos, legitimando ou deslegitimando os processos sociais.
Lucas Palma Mistrello demonstra de que forma o discurso é potente no convencimento de mudanças de valor moral por meio de falas bem arranjadas e críticas. O autor buscou justamente evidenciar como o sucesso de uma mudança social depende de seu sucesso linguístico, isto é, do discurso convencedor por trás dessa revolução.
Como foi o que ocorreu com a Revolução de 1932, que teve seu processo baseado não só nas questões de cunho político, mas também nas manobras de engajamento por meio da linguagem. O autor, para tanto, analisou os discursos presentes nos jornais da época e a forma como convenciam seus leitores a participarem da revolução em questão.
A Revolução Constitucionalista de 1932 é entendida como um processo político de reação das elites paulistas à Revolução de 1930. No entanto, essa compreensão não dá conta de explicar o massivo engajamento da população paulista naquele evento.
Se é uma reação da elite, como tantos populares se envolveram nesse processo? Seria apenas por meio de um discurso convencedor, crítico e influenciador que uma população se submeteria a embarcar em um movimento armado, arriscando sua vida? É esse discurso que Lucas Palma Mistrello analisa tão bem em sua pesquisa.
O autor consegue demonstrar com excelentes fundamentos, a partir de estudiosos como John Pocock e Skinner, que a linguagem é determinante para se garantir as grandes mudanças sociais e políticas. Sua principal fonte de análise foi o Jornal das Trincheiras, elaborado em agosto de 1932, pela Liga de Defesa Paulista. Esse era o principal veículo de informação da Revolução de 1932, também teve como fonte de análise o Jornal da Família Mesquita, além dos periódicos A Platéa e as folhas da Noite e da Manhã.
O destaque de sua pesquisa se dá por conta da minuciosa análise dos jornais em questão e como sua linguagem engajada se propunha a convencer toda uma população de abarcar em tamanha Revolução. Além do engajamento, o autor ainda aponta para a construção de um discurso, em que vigoravam os conceitos políticos apresentados pela imprensa da época e a martirização de São Paulo.
Lucas Palma Mistrello, mestre e graduado em História pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Foi indicado ao Prêmio Pereira Barreto, oferecido pelo Departamento de Cultura Científica da Unifesp, na área de Humanidades, em 2011, pela Iniciação Científica que originou a pesquisa dessa obra sobre a imprensa paulista de 1932.