O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 pelo Ministério da Educação, como uma forma de avaliação do desempenho dos estudantes. Onze anos depois, passou por um processo de reformulação que lhe delegou, entre outras atribuições, o papel de substituto dos tradicionais exames vestibulares para a seleção e o ingresso de alunos do ensino superior, assim como a política de financiamento do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e a de bolsa de estudos do Programa Universidade para Todos (Prouni).
A última edição do Enem (2018) recebeu mais de 6,7 milhões de inscrições. Essa adesão significativa de concluintes do ensino médio consolidou o exame como uma das principais formas de acesso às universidades, o que lhe confere uma grande aprovação social entre uma parcela da sociedade.
No entanto, o sistema escolar também possui certas disputas entre seus participantes, que realizam suas ações dentro de regras e da utilização de certas estratégias para manter ou alcançar determinada posição social.
A partir dessa ideia, em sua dissertação de Mestrado, Juvenilto Soares Nascimento investigou os elementos comuns ao sistema escolar brasileiro e sua estrutura, a fim de elucidar o processo de apropriação do capital cultural. O resultado dessa pesquisa é o livro “Enem: regras e estratégias no jogo das classificações e desclassificações”, publicado pela Paco Editorial.
Com a orientação da professora titular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Dra. Maria Esperança Fernandes Carneiro, o autor utiliza como referencial teórico alguns dos principais conceitos da teoria proposta por Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, como legitimação, estratégias, hábitos, e os capitais econômico, social e cultural, a fim de revelar como o Enem alcançou aprovação social.
Para isso, um dos objetivos principais da pesquisa foi o de investigar como se orientam os agentes sociais escolares do Ensino Médio ante as igualdades e, principalmente, as desigualdades do sistema escolar brasileiro, acentuadas pelas intencionalidades expressas e subjacentes do Enem e pelos processos de legitimação que o sustentam.
A partir disso, gerou-se o problema de pesquisa, em que se questionou: quais as influências do Enem no processo de reprodução e de legitimação das desigualdades, presentes no sistema escolar brasileiro? Nesse contexto, as teorias de Bourdieu e Passeron se tornam tão relevantes para a obra, já que oferecem conceitos que integram a lógica dos sistemas de educação desiguais, que se utilizam inclusive de exames para sua legitimação e manutenção.
A obra discute também o impacto de aspectos como as questões econômica, social e cultural no rendimento final dos estudantes, e como estes, suas famílias e até mesmo as escolas elaboram estratégias mais acessíveis para alcançar seus objetivos, dentro das condições que cada um deles apresenta.
Sobre o autor
Juvenilto Soares Nascimento é graduado em Letras e em Pedagogia, especialista em Gestão Escolar e em Docência do Ensino, e mestre em Educação. Atualmente, é pesquisador colaborador da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, onde participa do Projeto de Pesquisa “Estado da Arte: a produção de teses do Programa de Doutorado em Educação PUC/Goiás 2007 a 2011”. Docente há mais de 20 anos, é professor efetivo na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.