As eleições de 1950 foram apenas a segunda a ocorrer após a queda do Estado Novo. Neste regime político, autoritário e nacionalista, prevalecia a figura de Getúlio Vargas. No momento posterior ao seu término, partidos, lideranças políticas e agremiações sindicais estavam enfraquecidos. Graças a isto, ele pôde alimentar a imagem de líder carismático. Bota o Retrato do Velho outra vez trata da campanha presidencial daquele ano em que foi reeleito o ex-ditador.
Neste ambiente de acirramento ideológico, a imprensa brasileira não escondia suas posições políticas e editoriais. Na época, muitos encontraram nos jornais um verdadeiro palanque. É para dar conta de compreender e discutir narrativas, símbolos e ideias desta eleição que a obra citada foi escrita.
Luís Ricardo Araujo da Costa teve ideia de contar as histórias do pleito de 1950 em 2011. O ensejo viria da leitura da biografia de Samuel Wainer, para quem o ex-ditador havia concedido entrevista um ano antes. E é através da leitura dos principais jornais fluminenses daquele ano que a pesquisa levanta cenários e tensões em torno da reeleição de Vargas.
O contexto pós-Estado Novo e a relação entre história e imprensa
É interessante notar que ao cair o Estado Novo, a imprensa volta a ser local privilegiado para o debate político. O contexto democrático abre espaço para que os trabalhistas, liberais e comunistas defendam seus preceitos em um enfrentamento verbal aberto. Levantar a relação entre história e imprensa permite que se vislumbre este cenário e constitui a escolha teórico-metodológica do autor.
A opção, contudo, não é uma forma de estabelecer verdade ou falsidade documental destas fontes jornalísticas e históricas. Antes de tudo, é a compreensão da produção simbólica o que realmente importa. Bota o Retrato do Velho outra vez aproxima-se da imprensa para questionar o processo histórico como mero registro factual.
As perspectivas de uma história política também estão presentes no livro. É justamente neste percurso que a obra mapeia com abrangência o que foi publicado pela imprensa carioca para registrar aquela eleição em particular. Não por acaso o livro foi reconhecido no ano seguinte à sua publicação. Em 2017 ele ficou em segundo lugar no Prêmio Jabuti, na categoria comunicação.
Bota o Retrato do Velho outra vez
A obra foi apresentada originalmente como dissertação de mestrado em História na Universidade Federal Fluminense (UFF). A narrativa histórica que nela se apresenta trata do debate público travado entre Vargas e seus adversários. O campo dos embates narrativos entre o ex-ditador, Eduardo Gomes (UDN) e Cristiano Machado (PSD) foram os jornais do Rio.
Luís Ricardo Araujo da Costa buscou extensa fonte para destrinchar em três capítulos o contexto político daquele momento. Nesta análise, aborda desde o fracasso da aliança adversária à confirmação da candidatura de Vargas, o início da campanha getulista e os resultados de sua vitória.
Um momento sui generis na história, já que o político voltava ao Palácio do Catete de onde havia sido deposto. Tudo isto é percebido na imprensa da capital da República, analisada de forma abrangente para revelar atores e ideias marcantes. Os jornais neste contexto particular serviram como fonte e objeto de pesquisa histórica.
O autor – Luís Ricardo Araujo da Costa
Luís Ricardo Araujo da Costa é graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Partindo desta formação, tornou-se mestre em história pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Doutorando em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Atualmente faz parte do Núcleo de Pesquisa e Estudos em História Cultural da UFF (Nupehc). Também é membro da Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar). Em Bota o Retrato do Velho outra vez, notamos o reflexo de sua formação. Afinal, ora opera dentro do formato da grande reportagem, ora inserido no fazer historiográfico.