Na mitologia grega, Sísifo é considerado o mais astuto de todos os mortais pela audácia de enganar a morte e enfurecer os deuses. Foi um rebelde. Mas o custo de sua ousadia seria alto. Raivosos, os deuses o condenaram, após a sua morte, a um dos piores castigos já sentenciados. Passaria a eternidade rolando com as suas mãos uma enorme pedra de mármore até o cume de uma montanha. Ao chegar lá, a pedra rolaria montanha abaixo, reiniciando um ciclo de labor-castigo que nunca terminaria.
Sabe-se que a palavra trabalho vem do latim tripalium, um instrumento de tortura. Portanto, a associação entre trabalho, castigo, tortura e servidão/escravidão vem de tempos longínquos. Porém, hoje, talvez nunca ele tenha se tornado tão próximo da tragédia de Sísifo, isto é, uma atividade enfadonha, repetitiva, exaustiva, intensiva que, na maioria dos casos, não faz sentido algum para quem o executa a não ser encontrar meios de sobreviver sobre um mundo marcado pela exploração, a miséria e a precariedade em todos os sentidos da vida.
Este livro trata de um aspecto importante da sociabilidade contemporânea do ser social no trabalho. Ele vai além disso e busca responder para onde vai o futuro do trabalho humano na intitulada era digital. Ainda que todos e todas vivam hoje numa era da superexploração do trabalho pelo capital, o mito de Sísifo ganha materialidade em sua metáfora. Na interpretação de Camus, ele é trágico pois o seu herói é consciente de sua condição de servidão. E a consciência se adquire no processo de conhecimento/esclarecimento que se produz sobre a totalidade da realidade social. O trabalho intelectual, presente nesta obra, é uma parte desse processo que permite desnaturalizar aquilo que é reificado.
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O objetivo deste livro é decifrar os enigmas que lastreiam as transformações no capitalismo contemporâneo e suas expressões no mundo do trabalho, com avanço da precarização generalizada e da deterioração dos laços de coletividade, é parte fundamental da luta que temos de travar para preservar não somente o mínimo de sentido que atribuímos ao trabalho, mas, sobretudo, à possibilidade de construção de uma outra sociabilidade, na qual o tempo, desancorado da lógica do mercado, devolva à vida seu sentido emancipador, humano.