O mestre da literatura argentina Jorge Luís Borges procurou sucessivas vezes em sua obra libertar-se da noção de tempo sucessivo. Este sempre foi entendido como algo opressivo pelo autor nascido em 1899, em Buenos Aires. A Eternidade na obra de Jorge Luís Borges, de Paula Marchesini, analisa este tema do eterno na obra do argentino.
Tão importante quanto o labirinto que muitas vezes caracteriza seus temas é este ideal inacessível do centro. Inclusive, no fantástico comum aos trabalhos do escritor vemos esta motivação sendo expressa. Se o primeiro tema representa o tempo, nossa condição existencial e material, no segundo está a eternidade.
É ela a única solução cabível para o mistério da temporalidade que nos envolve. Mas nisto reside também uma grande angústia. O tempo é uma prisão, e o eterno, inapreensível para o sujeito. A saída para encarar este centro sem ser aniquilado está na literatura.
A questão do tempo como centro do labirinto borgiano
Todo o rico trabalho empreendido por Borges em poesias, ensaios, críticas e contos está impregnado pela questão do tempo. Podemos encontrar seus reflexos na predominância de temas como sonhos, labirintos, bibliotecas, religião e Deus. Metafísico, o conceito também ganha feição criativa através de seus escritos.
A Eternidade na obra de Jorge Luís Borges demonstra como o autor escreve para melhor entender seus pensamentos e anseios. É interessante notar que, embora imerso na filosofia, o argentino nunca estabelece doutrinas ou elabora sistemas para decifrar o universo. Qualquer pretensão neste sentido era encarada por ele com ceticismo.
A Eternidade na obra de Jorge Luís Borges
É pelos motivos expressos acima que frequentemente Borges recorre à literatura para fazer filosofia. O universo é, afinal, um código para o qual não dispomos de chave. Toda afirmação em contrário, não passa de ilusão. Neste quesito é interessante resgatar uma afirmação do escritor. O autor diria em entrevista que a história da humanidade é uma grande tentativa de criar esquemas e racionalizações. Estes serviriam para interpretar a nossa realidade externa.
O estudo que resultou nesta obra surgiu da necessidade de determinar os esquemas e racionalizações que o próprio Borges empregava na interpretação da realidade. A pesquisa que resultou neste livro revelou à autora esta valoração do enigma do infinito. Em sua escrita Paula Marchesini realiza, contudo, o oposto. A intenção é observar a unidade. É onde a leitura dos textos do mestre argentino revela o centro eterno, e sagrado, de seu labirinto.
Ele está na escolha dos temas, na construção dos personagens, na predileção pelo fantástico. O estudo é divido em três capítulos. No primeiro, aponta-se como a eternidade está por trás da criação borgiana. No segundo, como o autor refuta o tempo. Por fim, Marchesini trata do conceito da eternidade como impulso criador literário.
A autora – Paula Marchesini
Paula Marchesini é mestra em literatura e bacharel em filosofia pela PUC do Rio de Janeiro. No momento presente, a autora é doutoranda em filosofia na John Hopkins University. É lá que a filósofa, escritora, compositora e musicista trabalha sua tese com o tema da eternidade. Desta vez, amparada pelas obras de Clarice Lispector, Santa Teresa D’Ávila e Lisa Randall.
A proposta está em analisar filosoficamente como o eterno e a inspiração podem criar interdisciplinariedade entre arte, misticismo e ciência. A Eternidade na obra de Jorge Luís Borges foi apresentada originalmente para obtenção do título de Mestre em Literatura. Entre 2008 e 2018 esteve disponível online e serviu durante o período para outros estudos a respeito do mestre argentino.