O livro “Militares, Poder e Sociedade: Tensões na História do Brasil Republicano”, de Fernando da Silva Rodrigues, procura alargar o campo de estudos sobre os militares brasileiros. Normalmente, as pesquisas sobre o assunto se concentram no último momento em que a classe foi ativa no Brasil, isto é, durante o Regime Militar de 1964. Silva Rodrigues acredita que é preciso traçar um novo caminho, que nos possibilite criar uma história social dos militares.
A obra reúne 11 estudos separados sobre o período de ação dos militares no Brasil. Para chegar aos textos do livro, foram realizadas pesquisas históricas com documentos inéditos ou pouco explorados, que estavam armazenados em arquivos civis e militares.
Passeio pela história militar
Ao lermos o livro, fica evidente que o resgate da historiografia, desde o golpe militar republicano de 1889, constitui um desafio para profissionais. Como bem lembra Silva Rodrigues, no primeiro momento republicano, muitos historiadores estavam preocupados em criar uma imagem heroica dos líderes, o que nem sempre condizia com a realidade histórica.
Mas se por um lado os historiadores contemporâneos esbarram nessas dificuldades, por outro têm a colaboração do Exército. O autor demonstra que hoje está mais fácil chegar aos documentos devido a uma consciência da sua importância. Órgãos arquivistas estão mais próximos dos militares, e há um movimento mundial pela restauração da memória militar.
Sendo assim, o momento é propício para começar uma investigação que, se tiver resultado, ampliará o estudo sobre a atuação militar no Brasil. Silva Rodrigues deseja que uma investigação nesse sentido possa ampliar e ramificar os estudos historiográficos dentro da história do Exército.
O autor se preocupa em voltar atrás para explicar o contexto em que se encontravam os militares quando Marechal Deodoro da Fonseca traiu o governo monárquico e deu início à primeira ditadura militar brasileira. No decorrer do livro, Silva Rodrigues passa pelo século XX, período de forte influência militar, até chegar ao famigerado março de 1964, quando o poder militar destitui João Goulart do governo.
Devido ao grande número de dados sobre pesquisas históricas que o autor fornece, não há dúvidas que os novos pesquisadores têm no livro uma excelente fonte de consulta e até um roteiro de pesquisa. São inúmeros nomes de agentes, órgãos militares e autores que poderão ser utilizados como base para as pesquisas futuras na área.
Caminhos abertos a uma nova historiografia militar
Não há dúvidas que o livro traz um bom compilado sobre a história militar no Brasil. Desde o fim do Império, o Brasil sofre com falta de coesão social, e de tempos em tempos, é o Exército que supre a lacuna. Dessa forma, Silva Rodrigues também demonstra, que investigar uma história social dos militares, é fundamental para entendermos as raízes das dificuldades republicanas.
O Exército interveio no governo, não por causas pontuais, mas por se entender como um ente nacional. Ao ler o livro, percebemos o quão complexa é a relação entre militares e Brasil. Por vezes, são eles os protagonistas, e por outras, estão apenas nos fundos, como coadjuvantes que não saem de cena. Demonstrando isso, Silva Rodrigues desafia-nos a buscar uma historiografia que evidencie todos os sentidos da relação entre Exército e política.