Podemos definir como clássico todo o conhecimento criado e as consequentes referências geradas em um passado mais distante, mas que ainda são dignos de consideração nos dias atuais. Por conta de sua importância e de sua relevância como parte de uma base, são constantemente resgatados desde sua origem.
Respaldada nessa premissa, Fernanda Cardoso reúne as contribuições de nove autores considerados fundamentais sobre o desenvolvimento econômico – Paul Narcyz Rosenstein-Rodan, Hans Wolfgang Singer, Ragnar Nurkse, William Arthur Lewis, Albert Otto Hirschman, Gunnar Myrdal, Michal Kalecki, Raúl Prebisch e Celso Furtado – em sua mais recente obra, “Nove Clássicos do Desenvolvimento Econômico”.
O ponto de partida da obra é a tese de doutorado da autora, orientada pelo professor Gilberto Tadeu Lima e defendida em 2012. Após alguns anos ministrando a disciplina Desenvolvimento Socioeconômico para estudante de graduação da UFABC, Fernanda Cardoso amadureceu a ideia de organizar um livro com caráter mais didático que permitisse uma abordagem introdutória às teorias clássicas do desenvolvimento econômico que se tornaram a base fundamental do pensamento desenvolvimentista.
O resultado final é uma obra que discute as contribuições desses nove pioneiros que contribuíram para a formatação do arcabouço teórico do desenvolvimentismo clássico. Apesar de suas idiossincrasias, e até de possíveis incompatibilidades em suas teorias, são pensadores que apresentaram perspectivas do processo de desenvolvimento alternativas à neoclássica.
Esse “diálogo” entre os teóricos foi possível graças ao trabalho criativo e sugestivo da autora em estabelecer uma associação entre vários elementos de contribuições dos pensadores clássicos do desenvolvimento econômico abordados no livro, e assim chamada abordagem da complexidade. Dessa forma, pode-se atribuir com primazia uma série de elementos analíticos também contemplados, ainda que de maneira nem sempre uniforme e explícita, na abordagem de alguns desses pioneiros.
Outro ponto a ser destacado nesta obra é a sua narrativa, que contempla adequadamente características peculiares dos chamados países em desenvolvimento (como o Brasil) que, na visão dos nove pensadores, tornam inaplicáveis elaborações teóricas que não as incorporam explicitamente ao seu arcabouço analítico básico.
Assim, a questão do “desenvolvimento” que acompanha o Brasil há bastante tempo, também se faz presente no livro. O modelo desenvolvimentista pretendeu resolver a dificuldade do alçamento – em tese, fazer com que países mais atrasados alcançassem o nível das nações mais avançadas em termos de produtividade do trabalho.
Ainda que esse pensamento não tenha sido bem-sucedido no Brasil, é de suma importância estudar as ideias dos clássicos do desenvolvimento. E este livro, de Fernanda Cardoso, apresenta com notável clareza e precisão as principais teses desses nove autores clássicos da tradição desenvolvimentista.
Sobre a autora
Fernanda Cardoso é mestra em Economia da Indústria e da Tecnologia pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ, 2008) e doutora em Economia das Instituições e do Desenvolvimento pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP, 2012). Desde 2014, atua como economista e professora na UFABC vinculada ao bacharelado de Ciências e Humanidades, Ciências Econômicas, Relações Internacionais e ao programa de pós-graduação em Ciências Humanas e Sociais.