Em 2017, o Brasil atingiu o maior nível histórico de assassinatos, com mais de 65 mil pessoas vitimadas. Este dado foi revelado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em “Sob a Égide da Morte”, Eduardo Salatiel se debruça sobre as experiências de jovens ameaçados de morte, uma das manifestações deste quadro social.
É importante lembrar que a pesquisa do Ipea aponta que a maioria dos casos de homicídio ocorre entre a população masculina que possui de 15 a 18 anos. Além disto, as pessoas negras representam 75,5% dos casos de morte violenta no país. Naturalmente, o estado da violência no Brasil não é fenômeno recente.
Os índices vêm crescendo substancialmente desde a década de 1980. Segundo o Mapa da Violência 2014, entre 1980 e 2012 mais de 1.200.000 brasileiros foram assassinados. Isto significa um crescimento de 305%. São estas circunstâncias que tornam as reflexões da obra de Salatiel tão importantes.
Não é novidade que o Brasil apresenta índices de violência que superam aqueles registrados em zonas de conflito armado. E como vimos, a população juvenil é a maior afetada por esta situação. Para dimensionar o que significa a afirmação, precisamos lembrar que homicídios representam apenas 2,0% dos óbitos na população que não é jovem.
Já entre os mais novos, o número chegou a 28,8% do total de mortes entre 1980 e 2012. As altas taxas estão muito ligadas ao envolvimento destes jovens com o tráfico de drogas. Também é fato reconhecido que os adolescentes e adultos em tal situação costumam praticar a evasão escolar.
É com esta realidade que muitos educadores e profissionais da área têm de lidar. Afinal, o tráfico e a omissão do estado afetam diretamente o funcionamento de escolas em regiões periféricas. O autor de “Sob a Égide da Morte” tenta compreender este cenário de violência que envolve a juventude brasileira.
A obra é fruto da dissertação de mestrado de Eduardo Salatiel. No projeto, ele buscou compreender as experiências escolares de jovens ameaçados de morte em Minas Gerais. Em muitos casos, trata-se de adolescentes que fazem parte do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes do estado.
Com “Sob a Égide da Morte” Salatiel discute a relação deste quadro com a educação. Também são abordadas as perspectivas de vida destes jovens, incluindo a possibilidade de continuidade da escolarização. O livro se divide em quatro capítulos. No primeiro, é contextualizada a situação, o cotidiano e os desafios dos jovens ameaçados de morte em Minas Gerais.
No segundo capítulo, “Juventudes, Violação de Direitos e a Escola”, o autor começa a abordar os estereótipos relacionados aos jovens e aos estudos que os privilegiem. É também onde se explicita o lugar desta população como sujeito de direitos, e sua relação com violência letal e escola.
Em “Experiências de Vida e Escolarização de Jovens Ameaçados de Morte em Minas Gerais”, terceiro capítulo do livro, Eduardo trata de quatro casos de rapazes nesta situação. Na quarta parte, a obra é encerrada por reflexões sobre o direito à vida e educação por parte destes jovens. É onde se aponta ainda o papel das instituições de ensino no cenário estudado.
Eduardo Lopes Salatiel graduou-se em Filosofia pela UFMG e em Letras/Português pela Ufla. Em seguida, especializou-se no tema dos Direitos Humanos, através do Instituto São Tomás de Aquino. Além disto, é mestre em Educação pela UEMG. Sua relação com o tema do livro é bastante pessoal.
Por praticamente 10 anos, ele lecionou na rede pública de Minas Gerais. Também foi educador social do Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte no estado. É destas experiências que se nutrem as páginas de “Sob a Égide da Morte”. Hoje, o autor desempenha papel de analista da Superintendência Educacional de Segurança Pública.
Um comentário
Marcos Tavares
Ganhei o livro como presente de um amigo, sou professor da rede estadual paranaense. O assunto debatido é abordado de maneira superficial , eu esperava mais aprofundamento.