A obra do professor Francisco Cancela mostra com uma linguagem clara, um estudo pioneiro sobre a colonização na antiga capitania de Porto Seguro. Mais precisamente, a história e a relevância dos índios nessa capitania, entre a segunda metade do sec. XVII e início do sec. XIX.
Nesse sentido, ao ter como ponto de partida a colonização e nos expor todo o cenário econômico, político e social tanto de Portugal colonizador quanto de Brasil colônia, Cancela foca sua atenção nos índios e seu papel essencial para a formação da sociedade colonial.
Durante o reinado de dom José I, Portugal enfrentava instabilidade econômica por não ter mais tributos vindos de suas colônias. Já no Brasil, também havia problemas quanto à delimitação de terras entre as, até então, Américas portuguesas e Américas espanholas. Isso se tornou motivo de alerta, já que o Brasil era a principal colônia lusitana.
Com um cenário incerto, algumas mudanças foram necessárias, de modo a proteger a principal colônia portuguesa. Para isso, se basearam em três principais pilares: a defesa do território, a expansão econômica e o fortalecimento do poder central.
Durante as reformas, fortaleceram os laços mercantilistas, modificaram algumas medidas quanto a cobrança de impostos, reorganizaram a produção e o comércio, dentre outras medidas para retomar e crescer o poder político e econômico.
Essas novas transformações de medidas reformistas não deixaram de lado a antiga Capitania de Porto Seguro. No entanto, ao ter como estratégia uma rigorosa política de povoamento, a coroa portuguesa aproveitou a população indígena. Estes até então eram considerados vadios e estrangeiros dentro do próprio território. A coroa incentivou inclusive os casamentos mistos.
Com isso, o autor evidencia que os índios não foram um obstáculo para o crescimento da colônia e de uma civilização, e sim, peça chave para a formação da sociedade colonial. Hoje, a Capitania de Porto Seguro, é conhecida como o extremo sul da Bahia.
Essa capitania era considerada um local que enfrentava grandes dificuldades, difícil de prosperar. No entanto, a partir do momento que as medidas de transformações chegaram nessa capitania, tal território foi considerado uma das principais fontes de renda da coroa portuguesa, já que era responsável por mandar suprimentos para Salvador e Rio de Janeiro.
Os índios foram essenciais para realizar as reformas do reinado Josefino, pois, participaram não só da ocupação e extensão territorial, como também no trabalho, com atividades agrícolas e contribuíam até com os tributos.
Diferente do que diz o nosso senso comum sobre a população indígena, que os vê como grupos isolados, vítimas agressivas e indefesas, nessa obra, os índios são tratados como sujeitos históricos: possuem seus dramas e expectativas acerca da vida e também se relacionam com outros grupos éticos e sociais.
O livro do professor Francisco Cancela nasceu de sua tese de doutorado, que foi defendida no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade da Bahia em 2012. A obra foi adaptada para sair do universo acadêmico e atingir os mais variados públicos.
Com uma linguagem de fácil entendimento, porém, com um conteúdo bem estruturado e que nos incomoda, a nós leitores e cidadãos brasileiros, a obra nos faz pensar e repensar muitos dogmas sobre a história da colonização e a visão que temos acerca da população indígena.
Conta sobre uma parte do passado, de um pequeno território do nosso imenso país. Após a leitura de Os índios e a colonização na antiga capitania de Porto Seguro, nos transformamos. Passamos a refletir sobre a nossa própria trajetória como um povo e uma nação. Quebramos paradigmas internos e analisamos, com fundamento, o reflexo de tais acontecimentos em nossa sociedade atual.