Por: Maria Zilda da Cunha – USP/CNPq
Estudos do Imaginário: Reflexões contemporâneas, organizado por Edna Alencar Rivera, tem sua primeira edição em 2020 pela Editora Paco. A pesquisadora brasileira, que coloca sob mira um projeto de investigação cujo escopo é o Silêncio, paradoxalmente, traz à baila, neste livro, sob sua organização, um conjunto de vozes interessantes e potentes a expressar uma prosa vivificante do Imaginário.
Em primeiro lugar, convém lembrar que um livro com o tema imaginário, como este, comporta a inscrição de profundas reflexões sobre a densidade dos fenômenos humanos, da nossa realidade pluridimensional, da possibilidade de acessar simbolicamente o pensar, o sentir, o querer humano em suas muitas experiências de vida, e as formas como se expressam, quais sejam, entre outras, a mitologia, a religião, a filosofia, a política, a arte.
Em segundo lugar, convirá relacionar a ideia de prosa que se encontra no título da resenha ao caminho de reflexões que se estabelecem ao longo desta obra, cujo diagrama se faz por uma rede tecida com a ideia de Linguagem, com a de pensar e de expressar. Aspectos que consubstanciam em uma prosa vigorosa e sensível, no plano de uma ética do escrever, o intercâmbio crítico analítico entre pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, que exercitam formas diversas de pensamento, conjugando visões plurais.
Estruturado em quatro capítulos independentes, o livro comporta textos que incitam olhares acerca dos mitos e suas simbologias, como é o caso do texto de Jeciely Ildefonso de Oliveira, que acaba por revelar, por meio de imagens arquetípicas, que espraiam na poesia contemporânea de Amanda Lovelace, uma inquietação presente no imaginário feminino face à maternidade, um veio analítico que desvela algumas construções sociais de “como ser mulher” e de “como exercer esse papel diante a sociedade” tem frustrado “as mulheres desde a antiguidade, mesmo quando suas vozes apenas eram ouvidas no plano do simbólico e por meio da escrita masculina”(Oliveira, 2020, p. 91). Um dos mais sérios desafios da vida – a Morte – é fonte inesgotável de alimentação do imaginário humano. Sinalizando seu engendrar, na arte literária, cuja força imaginária é condicionada por sobre determinações inter e hipertextuais, Sandra Trabucco Valenzuela sinaliza congruências entre a literatura infantil e juvenil e o cordel e como, pela via do humor, engendra-se o prosear da morte com o imaginário ficcional. Com um repertório teórico metodológico bastante vigoroso, o texto de Dheiky do Rêgo Monteiro Rocha Maria do Socorro Rios Magalhães adentra o imaginário singular do escritor Assis Brasil, o capítulo abre-se com incursões certeiras acerca das relações entre esse “capital pensado do homo sapiens” (Durand, 1977, p.14) e a literatura, bem como sobre as dimensões da fantasia e a sua fundamental importância para a emancipação sensível e intelectual da criança leitora. Reservando reflexões acerca do Imaginário como guardião dos bens imateriais humano, Edna Alencar Rivera, a autora do primeiro capítulo do livro, revisita a formação e o desenvolvimento da literatura para crianças e jovens. É com sua voz que abre o conjunto polifônico de reflexões aqui reunidas que tecem uma prosa interessante sobre imaginários.
Seguramente, tem-se neste livro, não apenas interpretações que gestam pensamentos sobre construções teóricas e ficcionais, mas que sobretudo lançam ao devir a potência para novas pesquisas sobre Imaginário, campo cujo limiar é interminável. Por esta e todas as demais razões, minhas breves anotações entram em consonância com essa prosa que se faz presente e possível entre a vida, os desejos, as ações e a força inesgotável desse imaginário que nos faz seres simbólicos e humanos.
Sobre o livro
Esta obra sobre o Imaginário buscou trabalhos que atualizem o conceito que atualiza-se e reformula-se à medida que revemos conceitos, paradigmas e agregamos significações às coisas do mundo. Parte-se da premissa de que nenhum ser humano escapa do imaginário. Quer num ditado popular, num hábito, numa canção, numa qualquer manifestação artística ou não, lá está ele a referenciar posicionamentos, gestos. Na verdade, palavras representam vãs tentativas de definição deste conceito fugidio pela própria natureza do que representa, a distinta biblioteca imaterial. Desta forma, os estudos reunidos neste volume simbolizam a busca por caminhos que deixem trilhas para outros escritos. Daí, a relevância da proposta e o convite à leitura.
Sobre a autora organizadora da obra
Edna Alencar Rivera é pós-doutora pela Universidade do Minho, Portugal. Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo. Jornalista de formação, dedica-se às pesquisas das linguagens do imaginário e das manifestações do silêncio.
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