Em 1922, Albert Einstein, a caminho do Japão, soube que receberia o Prêmio Nobel de Física. Ao chegar à capital japonesa, foi logo para o hotel, onde ficou recluso certo tempo. Um jovem bateu à porta do quarto para fazer uma entrega. Percebendo que não tinha dinheiro para gorjeta, Einstein deu-lhe um bilhete manuscrito de próprio punho, com a frase: “Uma vida calma e humilde trará mais felicidade do que a busca do sucesso e o desassossego constante que vem com ele”. Em 2017, esse mesmo bilhete foi vendido numa casa de leilões, em Jerusalém, por quase dois milhões de dólares!
É provável que, naquele momento, o famoso físico já estivesse sentindo algo que acompanha a muitos dos que conquistaram notoriedade – o famigerado peso da fama. Sua mensagem denota que nem tudo são flores, quando se sai do anonimato para se tornar celebridade, bem diferente do que alguns propagam e tantos, cegamente, acreditam.
Na verdade, o problema não está em se sobressair, mas no jeito como se lida com isso, sobretudo na obsessão de querer se destacar a qualquer preço e acabar arrastado pelo “desassossego constante” ou outras inconveniências.
Em cima dessa voracidade de se notabilizar, caíram de paraquedas gurus e escritores de autoajuda, fornecendo a quem quisesse pagar os passos infalíveis para ter evidência e ganhar muito dinheiro. Fomentaram, pois, a ideologia de valor pessoal, associada à conquista de notoriedade com ideias impositivas, como: se não está tendo sucesso, é porque não está pensando ou fazendo do modo certo, basta seguir as recomendações do livro e você pode chegar aonde quiser.
As limitações dessas fórmulas surgem no fato de se desconsiderar – a realidade de cada um e do meio onde está inserido – menosprezando todos os tipos de condições facilitadoras ou não para ter sucesso. Ou sugestionar alguns a se debruçarem sobre esse objetivo, às cegas, entrando em um aprisionamento descrito pelo poeta e filósofo português Fernando Pessoa: “Em uma fase de minha vida não fui eu e sim o que os outros queriam que eu fosse!”
Para bem entendermos como isso se estabelece no comportamento das pessoas, exemplifico com o pai, que, enquanto aponta para o adolescente, diz a parentes e amigos: “Este meu filho, um dia, vai ser alguém!” Apesar de inocente e até orgulhosa, a expressão usada pode incutir no garoto o entendimento de que o mais notável não está no que ele é, mas em algo fora e distante. De modo indireto, desconsidera que o filho carregue valores intrínsecos, os quais podem fazê-lo ainda melhor e que, se ausentes, podem minar seu caráter.
Rubens Alves, educador e psicanalista, previne: “Devemos ter cuidado para não vivermos a fábula do Pinóquio de trás para a frente”. É a história do boneco de pau que, quando se aproxima dos valores verdadeiros, afastando-se de tolices fúteis e maldades, torna-se humano. Todavia alguns fazem o contrário, abandonam a própria essência para acabarem como bonecos manipulados, na busca desenfreada por popularidade. Dentre esses riscos, atentemos para outra advertência de Einstein: “Antes de tentar alcançar o sucesso, tente primeiro ser um homem de princípios”.
Texto de Renato Oliveira
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A obra Quando a autoajuda não ajuda e quando ajuda, de Renato Oliveira, trata da desconstrução e construção de temas polêmicos e contraditórios relacionados à autoajuda, a partir de concepções baseadas em estudos de filósofos, psicólogos, médicos, psicanalistas, físicos, dentre outros estudiosos do comportamento e da psique humana.
Organizado em quatorze capítulos, distribuídos em duas partes, o livro apresenta pesquisas fundamentadas que auxiliam no desafio de adentrar no campo das convicções, considerando tendências ficcionais envolvidas no segmento da autoajuda, de forma a confirmar e/ou refutar conceitos construídos nesse processo.
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